Mais uma vez ali, de frente para o mar.
A se maldizer.
A se queixar.
A se lamentar.
Afinal, tinha razão para isto.
Que dor pode ser maior que a perda de um filho?
Mais ainda, de uma filha?
Não qualquer filha, mas aquela filha!!!
A melhor! A mais especial! A mais perfeita! A mais tudo!
Sempre só!
Neste dia avistou alguém!
Mãe e filha! A garotinha brincava com sua boneca, feliz, sorridente.
A onda!
Veio, de repente! E já não havia mais boneca! Sumiu, levada para as profundezas do mar!
Desespero! Berros!
A mãe tentava acalmar. A garota inconformada, nada ouvia, nenhuma palavra adiantava.
Para de olhar para aquela mãe com sua filha e volta a pensar na própria filha. Foram segundos distante da dor: E pensar que tanto choro por uma boneca!!! Consolar esta garota, isto que vou fazer.
– Neném, você vai crescer e vai gostar de outras coisas, depois que for adulta, vai ver que a boneca foi de uma fase de sua vida que passou, foi bom, enquanto durou, pode até deixar alguma saudade, mas passou. A boneca ficou com você o tempo que foi permitido. Quando terminou seu tempo juntas, Deus levou!
– Ah é? Então, quando eu for adulta vou entender meu choro de criança? Um adulto entende o que uma criança não consegue entender?
– Sim. É assim.
– Então me responde uma coisa: Qual a diferença maior? Entre o entendimento de uma criança e o de um adulto ou entre o entendimento do homem e o entendimento de Deus?
Susto. Confusão. Lucidez. Compreensão.
Virou-se para a mãe da garota. Já não estava lá.
Voltou-se novamente para a garota e também não estava.
Olhou para o mar e viu alguém indo embora, caminhando sobre as águas.
Ainda sentia saudade, mas entendeu que já não tinha o direito de se lamentar.